Heitor dos Prazeres (Rio de Janeiro, RJ, 1896 - 1966)
Heitor dos Prazeres (Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 1898 - Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 1966). Compositor e pintor. Importante nome da cultura popular brasileira, como músico, participa da fundação de grandes escolas de samba cariocas, como Portela e Mangueira. Descendente de negros baianos que migram para o Rio de Janeiro, retrata na pintura as rodas de samba, as favelas, os rituais de candomblé, os bailes e as festas populares, a partir de cenas do cotidiano da população negra no subúrbio da cidade.
Filho de marceneiro e clarinetista da banda da Guarda Nacional e de costureira, é, ainda, sobrinho do pioneiro dos ranchos cariocas, Hilário Jovino Ferreira (1873-1933), de quem ganha o primeiro cavaquinho. Frequenta as rodas de samba de Tia Ciata e Tia Esther, conhecidas como tias baianas, onde tem contato com músicos e futuros parceiros como Donga (1890-1974), Sinhô (1888-1930) e Paulo da Portela (1901-1949).
Aos 20 anos, é conhecido como Mano Heitor do Cavaco e Mano Heitor do Estácio1. Firma relações com compositores como Cartola (1908-1980) e Paulo da Portela, compõe em parceria com vários sambistas e participa do início dos trabalhos e da fundação de escolas de samba como Mangueira, Portela e Deixar Falar (futura Estácio de Sá).
Na época, o Brasil busca afirmar sua identidade como povo moderno, e formas culturais nascem desse novo imaginário de país livre. O Carnaval e o samba surgem como criações fortes dos grupos sociais que habitam as favelas e os subúrbios. Referindo-se à região da Praça Onze e às festas na casa das tias baianas, Heitor dos Prazeres cria a denominação África em Miniatura, a Pequena África, que passa a gerar formas próprias de convívio. É também nesse momento que se definem as linhas principais daquilo que o mundo conhece como samba brasileiro. Firmam-se as rítmicas básicas, os timbres e instrumentos típicos e os modos de tocá-los. As primeiras escolas se fortalecem, e uma identidade do samba passa a ser partilhada. Surgem oportunidades de ganhar algum dinheiro com essa música, de gravar discos e experimentar o reconhecimento social.
Nesse ambiente se dá a polêmica com Sinhô, a quem Heitor dos Prazeres acusa de ter "roubado" partes de seus sambas “Ora Vejam Só” (1927) e “Gosto que Me Enrosco” [gravada como “Cassino Maxixe”, em 1927, por Francisco Alves (1898-1952)]. O próprio Heitor também é acusado de se apropriar indevidamente de diversos sambas, entre eles alguns de Paulo da Portela e “Vai Mesmo”, do compositor Antonio Rufino (1907-1982), e é impedido pelo dirigente da Portela Mané Bam-Bam-Bam de desfilar pela escola no Carnaval de 1941, gerando uma ruptura.
Com “A Tristeza Me Persegue”, vence concurso de samba organizado pelo sambista Zé Espinguela (1890-1945) em 1927. Os sambas “Vai Mesmo” e “Deixaste Meu Lar”, ambos de 1929, parceria com o cantor Francisco Alves (1898-1952), são gravados por Mário Reis (1907-1981). Heitor dos Prazeres inicia um catálogo que reúne cerca de 300 composições com ritmos como choros, rancheiras, macumbas, baiões e até ritmos latinos, mas é o samba seu gênero mais producente e para o qual mais contribui. Em seu primeiro grande êxito, “Mulher de Malandro”, lançado em 1931 por Francisco Alves, com acompanhamento da Orquestra Copacabana, Prazeres lida com o samba de breque, ainda em gestação.
Ainda na década de 1930, cria um coro feminino como acompanhamento, Heitor dos Prazeres e Sua Gente, com o qual excursiona e se apresenta no Uruguai. Atua nas Rádios Cosmos e Cruzeiro do Sul, em que apresenta o programa A Voz do Morro, com Cartola e Paulo da Portela. Prazeres forma o Grupo Carioca e torna-se ritmista da Rádio Nacional e do Cassino da Urca.
Passa a se dedicar também à pintura, por volta de 1937. Autodidata, sem formação acadêmica em artes visuais, é considerado um dos representante da arte naïf no Brasil. Memórias de seu passado e cenas do cotidiano da população periférica da cidade do Rio de Janeiro são os temas principais de sua produção. A música também está presente na pintura de Heitor dos Prazeres e é o mote de diversas de suas telas, com cenas de bailes de carnaval e rodas de samba. Em Carnaval (s.d.), destacam-se as cores vibrantes e a riqueza de detalhes na representação de um grande grupo de foliões. Por meio dos movimentos de saias rodadas, braços e pernas das personagens em diferentes ângulos, as figuras bidimensionais ganham ritmo.
Alcança o terceiro lugar para artistas nacionais na 1ª Bienal Internacional de São Paulo, em 1951, com o quadro Moenda, e ganha uma sala especial na 2ª Bienal Internacional de São Paulo (1953). Cria ainda cenários e figurinos para o Balé do IV Centenário da Cidade de São Paulo, no ano de 1954. O diretor de cinema Antônio Carlos Fontoura (1939) produz em 1965 um documentário sobre a obra de Heitor dos Prazeres. Em 1999, é realizada mostra retrospectiva no Espaço BNDES e no Museu Nacional de Belas Artes (MNBA), ambos no Rio de Janeiro, em comemoração ao centenário de seu nascimento.
Vivendo em uma época de grandes definições para a sociedade e a cultura brasileira, Heitor dos Prazeres atua nessas transformações, ora participando ativamente na formação do samba, ora registrando em suas telas a população periférica, seu cotidiano e costumes, e consagra-se como artista popular brasileiro tanto na pintura como na música.
Nota:
1. "Mano" é uma denominação comum entre os sambistas, e "Estácio" é uma referência a Estácio de Sá, bairro onde Heitor dos Prazeres conhece compositores como Ismael Silva (1905-1978).
| Fonte de pesquisa: https://enciclopedia.itaucultural.org.br/pessoa10428/heitor-dos-prazeres | Fonte da imagem: https://pt.wikipedia.org/wiki/Heitor_dos_Prazeres#/media/Ficheiro:Heitor_dos_Prazeres,_1961.tiflink | Acesso em: 27 dez. 2021.